NOVA NOTA FISCAL PODE TER
CUSTO PARA O CONSUMIDOR
A discriminação de impostos incidentes
sobre serviços e produtos na nota fiscal poderá ter custos para ser implantada,
que serão repassados ao consumidor, avaliam entidades da indústria e do
comércio ouvidos pela Folha
.
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Anteontem a Câmara
dos Deputados aprovou o projeto de lei -que ainda precisa ser sancionado pela
presidente para entrar em prática- que obriga a discriminação dos tributos
pagos, seja nas notas, seja em cartazes nos pontos de. venda.
Para informar o consumidor, as empresas
terão que implantar sistemas que apurem a incidência de tributos sobre cada
produto.
"A dificuldade
vem desse pântano que é a rede complexa do sistema tributário brasileiro",
diz André Rebelo, assessor de assuntos estratégicos da Fiesp (Federação das
Indústrias de São Paulo).
A opinião é compartilhada pela
Fecomércio-SP. Segundo as entidades, essa será mais uma das chamadas obrigações
acessórias, nome dado às comprovações prestadas por empresas da quitação de
compromissos fiscais.
Estudos mostram que
no Brasil são gastas 2.600 horas para se apurar impostos, quando a média de
países em desenvolvimento é de 500.
SOFTWARE GRATUITO
Para a Afrac (Associação Brasileira
Automação Comercial), será necessária a renovação do parque tecnológico, mas isso
terá um custo trivial.
Impostos diretos
como IPI e ICMS já são auferidos no momento da compra. Para outros como o IR,
mensurado após a compra, terão que ser feitas adequações.
A ACSP (Associação Comercial de São
Paulo) afirmou já ter desenvolvido um software que faz a apuração de todos os
tributos, que será distribuído gratuitamente.
Para os advogados Walter Cardoso
Henrique e Luis Antônio Caldeira Miretti, que integravam a comissão de assuntos
tributários da OAB-SP e redigiram o corpo da lei, a discriminação dos tributos
na nota podem ser uma ferramenta para o contribuinte pressionar o governo a
fornecer melhores serviços.
A lei regula o artigo 5º da
Constituição, que dá ao cidadão o direito de saber quanto é gasto com tributos
-a carga tributária do Brasil hoje está em 35% do PIB.
"Saber quanto paga de imposto é
tão importante quanto as leis da Ficha Limpa e de responsabilidade
fiscal", diz Henrique.
O projeto de lei
foi originado de uma ação popular que recolheu 1,5 milhão de assinaturas.
Análise: Medida é inócua; o
principal é simplificar o sistema tributário
ANTONIO CARLOS R. DO AMARAL
O projeto de lei aprovado pela Câmara
dos Deputados que determina que em milhões de mercadorias e serviços seja
"aproximadamente" discriminado o valor da "totalidade dos
tributos federais, estaduais e municipais", cuja incidência "influi
na formação dos respectivos preços", impõe algo .
Não há como sequer imaginar a
viabilidade de se concretizar a "aproximação" da carga tributária
real de tributos tão díspares quanto ICMS, ISS, IPI, IOF, IR, CSLL, PIS,
Cofins, Cide, II, PIS e Cofins/Importação, cobrados sob os regimes tributários
mais diversos (cumulativo, não cumulativo, presumido, real, simples,
supersimples etc.).
Para não dizer a
distorção causada pela exclusão dos tributos previdenciários sobre a folha de
salários e também patrimoniais (IPTU, IPVA etc.), que oneram de formas
distintas fornecedores e fabricantes de produtos e serviços diferentes.
Ademais, impõe
penalidades atrozes. Quem não expuser o custo tributário nos bens e serviços
sofrerá de multa a apreensão do produto, suspensão no fornecimento do serviço a
interdição parcial ou total do estabelecimento ou da atividade empresarial.
O benefício pretendido, transparência
na carga tributária para o cidadão, não se dá por propostas mirabolantes. Não
consta na experiência mundial nada que se aproxime de uma fórmula tão
retumbante mais para confundir do que elucidar.
No Canadá, na década de 90, foi feita
uma campanha educativa de esclarecimento ao contribuinte sobre o funcionamento
do sistema tributário e do imposto sobre o valor agregado. Algo didático e
ilustrativo que poderia ser encampado no Brasil.
Importante é ensinar como se pode
chegar a uma carga tributária de 60% em um automóvel, por exemplo, e porque
isso não é fácil de ser calculado, pois os tributos incidem uns sobre os
outros, de forma camuflada muitas vezes, com alíquotas que se sobrepõem etc.
O Congresso Nacional poderia, sim,
simplificar o burocrático sistema tributário brasileiro.
Dar transparência não é impor mais
encargos e obrigações às empresas, mas contribuir para um sistema mais simples
e menos oneroso ao país.
Fonte:
Folha de S. Paulo
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