
A queda dos juros do Banco Central para os menores patamares desde o Plano Real está longe de reduzir, na mesma proporção, os gastos do governo com a sua dívida.
Tradicionalmente apontados como os maiores vilões das contas públicas, ao lado dos gastos previdenciários, os encargos da Dívida Pública não caíram até agora o suficiente para sancionar as previsões oficiais.
Em vez de uma melhora motivada pelo alívio das despesas financeiras, como foi projetado pelo Ministério da Fazenda, o deficit das contas da União, dos Estados, dos municípios e das estatais mostra uma piora puxada por despesas com programas sociais, pessoal, Custeio administrativo e obras.
Dados pesquisados pela Folha apontam que, de um ano para cá, os juros médios incidentes sobre a dívida de União, Estados, municípios e estatais tiveram um modesto recuo, de 16,7% para 15,9% acumulados em 12 meses.
No mesmo período, entre agosto de 2011 e julho passado, o BC promoveu sucessivos cortes de sua taxa, a Selic, que passou de 12,5% para 8% ao ano -e, a partir de agosto, para 7,5%.
Referência para a Rentabilidade das aplicações financeiras e para o custo dos empréstimos bancários, a Selic também é o principal indexador da dívida pública.
Os números evidenciam, porém, que a influência da taxa no gasto do governo não é direta e nem imediata.
PRÉ-FIXADOSUm dos motivos é o aumento da proporção de Títulos públicos corrigidos por índices de preços e prefixados, ou seja, com Remuneração negociada previamente com os credores -que tendem a exigir Remuneração mais alta para aceitar o Risco maior.
Outro é que, nos últimos anos, o endividamento federal foi inflado por operações como a compra de dólares para as reservas do BC e os aportes de recursos para o BNDES, banco oficial de fomento.
Nesses casos, o custo da dívida depende também da Rentabilidade das reservas e do volume de subsídios concedidos pelo banco estatal.
MENOS ESFORÇO FISCALNa esteira da redução aguda da Selic, o governo Dilma Rousseff também relaxou sua política de austeridade fiscal, reduzindo impostos e elevando gastos na tentativa de reanimar a economia.
Com a expectativa de menos despesas com juros, no entanto, foram apresentadas projeções otimistas para as contas públicas.
Na apresentação do projeto de Orçamento para 2013, a equipe econômica previu que o deficit público cairia de 2,6% do Produto Interno Bruto, em 2011, para 1,6% neste ano e 1% no próximo ano.
O deficit, em trajetória oposta, cresce desde fevereiro e atingiu 2,75% do PIB nos 12 meses que se encerraram em julho.
Não é difícil entender: nos primeiros sete meses do ano, as despesas com juros da Dívida Pública caíram apenas 7%, ou R$ 10 bilhões, na comparação com o período correspondente de 2011.
Já a parcela da arrecadação poupada para o abatimento da dívida foi reduzida em R$ 21 bilhões, considerando-se a mesma base de comparação.
Juros 'comem' verbas de outras áreasQuando gasta mais do que arrecada, o governo ajuda a alimentar a inflação. Despesas com salários, programas sociais e obras estimulam a economia, mas podem fazer o consumo crescer mais que a Oferta de Bens e serviços, elevando os preços. Se o gasto com juros não cai, sobra menos para as outras áreas.
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